Nos períodos
eleitorais a frase que mais escutamos dos candidatos é que a educação será uma
prioridade em sua gestão, além de ser apontado como a saída para resolver
os principais problemas de uma cidade, estado ou país.
![]() |
Em que pese que só
educação, sem distribuição de riqueza, igualdade de oportunidades,
democratização dos espaços de poder e tantas outras conquistas necessárias, não
se muda radicalmente a vida das pessoas. Sem dúvida, se as promessas de maior
investimento na educação fossem levadas para frente a nossa realidade seria
outra.
Vários dados mostram
como o nível de escolaridade está intimamente ligado com melhores oportunidades
de trabalho, renda, ou seja, a educação é um definidor da condição social. Não
é a toa que quando olhamos para o sistema prisional os dados são reveladores.
Dados do InfoPen (Sistema
Integrado de Informações Penitenciárias), do Ministério da Justiça,
mostram que o nível de escolaridade entre a maioria dos presos, em 2012,
era o Ensino Fundamental Incompleto (50,5%). Do restante, 14% eram
alfabetizados, 13,6 tinham Ensino Fundamental Completo, 8,5 haviam concluído o
Ensino Médio, 6,1% eram analfabetos, 1,2% tinham Ensino Médio Incompleto, 0,9%
haviam chegado a universidade, mas sem conclusão, 0,04 concluíram o Ensino
Superior e 0,03 chegaram a um nível acima de Superior completo.
Em artigo publicado no
site JusBrasil, o jurista Luis Flávio Gomes é categórico ao dizer que
"O perfil do preso brasileiro se mantém há anos entre os jovens, pardos
e de baixa escolaridade. Essa situação permanece, pois não são apresentadas
políticas públicas realmente eficazes de inserção do jovem na atual sociedade,
ao contrário, economiza-se em escola para construir presídios".
Em seu discurso de posse no Congresso Nacional a Presidente
Dilma anunciou como lema do seu Governo "Brasil, Pátria Educadora" e
afirmou: "estamos dizendo que a educação será a prioridade das
prioridades". E foi além "Democratizar o conhecimento
significa universalizar o acesso a um ensino de qualidade em todos os
níveis – da creche à pós-graduação; Significa também levar a todos os
segmentos da população – dos mais marginalizados, aos negros, às mulheres e a
todos os brasileiros a educação de qualidade".
Contraditoriamente,
meses depois, o governo anuncia um corte de 9 bilhões dos recursos do
Ministério da Educação, como parte do ajuste fiscal, que na prática só serve
para o pagamento da dívida pública, ou seja, reservar dinheiro para os
bancos. Portanto, a Pátria Educadora mais uma vez não conseguiu sair do
discurso.
Do outro lado da Praça
dos 3 Poderes assistimos uma avalanche do conservadorismo, encabeçada por
Eduardo Cunha, que teve como uma das suas principais pautas a redução da
maioridade penal. Apesar do forte apelo popular favorável à redução, todos os
dados estatísticos apontam que os adolescentes são muito mais vítimas do que
provocadores de violência em nosso país.
Além disso, o perfil
dos adolescentes que estão reclusos, cumprindo medidas sócio-educativas, é
exatamente o mesmo do sistema carcerário, pobres, negros e com baixa
escolaridade. Sendo assim, o mesmo Estado que não garante educação de
qualidade, saúde e cidadania é a mão pesada que oprime, que mata e que
encarcera.
No estado de São Paulo
essas ideias ficam bem explícitas. Primeiro é o estado com maior população
carcerária do país com, 219 mil presos, o que representa 1/3 de todos os presos
do país, que hoje são 607 mil. Vale lembra que 40% dos presos são
provisórios, portanto ainda não foram julgados. Sem contar que 2015 é o ano com
o maior número de chacinas e de mortes provocadas por policiais dos últimos 10
anos.
Ainda não satisfeito
com essa massa de presos, o Governador Geraldo Alckmin é um dos que encabeça
propostas de flexibilização do Estatuto da Criança e do Adolescente, trocando
em miúdos, é a favor da redução. Reforçando a relação com a educação, é o mesmo
tucano que está provocando um processo de fechamento de escolas em São Paulo.
Vejamos, o estado que
possui o maior número de presos do país, onde a morte provocada por policiais
está crescendo, que o governador é a favor da redução da maioridade penal, é
também o estado onde o governo tem coragem de fechar escolas alegando que está
sobrando vagas.
Em um cenário onde as
estruturas escolares são precárias, com salas super lotadas, com professores
mal remunerados, se está sobrando vagas é uma ótima oportunidade para reduzir o
número de alunos por sala, melhorando assim as condições de trabalho do
professorado. Porém, o governo já vem agindo na contramão dessa lógica.
No começo do ano mais de 3.300 turmas foram fechadas e classes deram
início ao ano letivo com 60, 70 e até 80 alunos, com a expectativa que parte
dos alunos desistisse.
A imposição da
reorganização das escolas, sem um diálogo com a comunidade, trazendo dificuldades
para a organização familiar, com filhos indo estudar mais longe, superlotação,
demissão de professores, está muito longe de ser uma motivação
pedagógica, o que está por trás são interesses financeiros de corte de gastos
do governo do estado.
Neste contexto, o que anima é ver a
juventude tomando as ruas para protestar contra esse autoritarismo e
reivindicando o direito de estudar. Para quem achava que a juventude estava
perdida, sem perspectiva e pouco preocupada com a educação, as mobilizações que
pipocaram por todo o estado provam o contrário.
A democracia é algo que ainda
precisamos conquistar plenamente em nosso país, pois existem uma seletividade
gigantesca e profundas desigualdades que
precisam ser superadas, porém a
juventude que está indo as ruas mostra que não aceitará
retrocessos nas pequenas conquistas que obtivemos.
A
universalização do acesso à educação é algo muito caro, conquistado a duras
penas. Ver a juventude periférica disposta a não abrir mão desse direito, nos
alimenta de energia e aponta para o esgotamento desse modelo predatório de
relações humanas, onde poucos concentram riquezas e acham que podem mudar o
destino de muitos.
Mesmo com limites, não
podemos ter dúvida. Se queremos construir algo novo precisamos de menos cadeia
e mais educação.
Juninho, Presidente Estadual do PSOL São
Paulo e militante do movimento negro
Fontes:
Perfil dos presos no brasil em 2012
http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121932332/perfil-dos-presos-no-brasil-em-2012
Prioridade de Dilma,
Educação deve ter corte de R$ 9 bilhões
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1632333-prioridade-de-dilma-educacao-deve-responder-por-13-do-corte-de-r-70-bi.shtml
É tão gritante a contradição de destruir a educação e dizer que representa o povo... Lembrei daquela expressão do educador Paulo Freire, se com educação já é difícil, sem educação torna-se impossível. Um eterno enxugar de gelo. O resultado é sempre mais violência, mais extermínio da juventude negra e periférica. O mais escroto é ver setores privilegiados da sociedade dizendo que as cotas são prejudiciais e dando apoio e suporte para governos como o de Geraldo Alkimin do PSDB.
ResponderExcluirSó a luta muda a vida.
Um abraço Juninho, seu texto está muito acertado. Tamo Junto.
É tão gritante a contradição de destruir a educação e dizer que representa o povo... Lembrei daquela expressão do educador Paulo Freire, se com educação já é difícil, sem educação torna-se impossível. Um eterno enxugar de gelo. O resultado é sempre mais violência, mais extermínio da juventude negra e periférica. O mais escroto é ver setores privilegiados da sociedade dizendo que as cotas são prejudiciais e dando apoio e suporte para governos como o de Geraldo Alkimin do PSDB.
ResponderExcluirSó a luta muda a vida.
Um abraço Juninho, seu texto está muito acertado. Tamo Junto.